A quantidade de sinistros de trânsito registrados em Pernambuco em 2024 tem deixado o Corpo de Bombeiros Militar do Estado (CBMPE) em alerta constante. O motivo é o alto número de vítimas, muitas delas fatais, que poderiam ter sobrevivido se atitudes básicas de segurança tivessem sido adotadas. A preocupação maior recai sobre os motociclistas e passageiros de motos, principais envolvidos nas quedas e colisões que se espalham pelas ruas, avenidas e estradas do Estado e do País.
Levantamento feito pela Corporação aponta que Pernambuco registrou quase 9 mil ocorrências de trânsito no ano passado. O dado se refere exclusivamente aos atendimentos realizados pelas equipes dos Bombeiros, sem incluir os casos socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que também responde por uma parcela significativa dos resgates nas cidades.
Do total, foram contabilizadas 4.983 colisões e abalroamentos, 1.063 atropelamentos, 394 choques de trânsito e 369 capotamentos. As tragédias resultaram em 153 mortes. Os motociclistas lideram os registros de vítimas: 2.084 quedas de moto foram atendidas em 2024, representando mais de 40% dos sinistros registrados pela corporação no período.
Em nota oficial, os Bombeiros destacaram que muitos desses casos poderiam ter sido evitados com o uso de equipamentos de segurança, como capacete e cinto, além da obediência à sinalização, limites de velocidade e atenção plena ao trânsito. "A imprudência, o excesso de confiança e o desrespeito às normas continuam sendo as principais causas de acidentes com vítimas", afirma o comunicado.
Em 2023, os números já vinham chamando atenção. A Região Metropolitana do Recife concentrou a maior parte dos sinistros com motos registrados pelos Bombeiros. Dos 4.300 sinistros de trânsito contabilizados pela corporação naquele ano, 3.831 envolveram motocicletas — o equivalente a 77% do total.
Também houve crescimento nos atropelamentos envolvendo motos, com 408 ocorrências, o que representa quase 42% de todos os casos do tipo registrados no ano. Para o major Getúlio Sena, então subchefe do Centro de Comunicação Social dos Bombeiros, a situação é preocupante. “Esse aumento de 10% em relação a 2022 é ainda mais grave porque partimos de estatísticas que já eram muito altas”, alertou.
A explosão dos serviços de entrega e transporte por motocicletas, como Uber Moto e 99 Moto, é considerada um dos fatores por trás do aumento das ocorrências. Embora o relatório do CBMPE não traga um recorte específico, a relação entre o crescimento desses aplicativos e a maior circulação de motos nas cidades é evidente. A falta de preparo dos passageiros também preocupa: muitos sequer sabem como se comportar de forma segura na garupa de uma motocicleta.
No mesmo caminho, os dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) revelam um outro fator alarmante. Mais da metade dos condutores de motos no Brasil não possuem habilitação na categoria A. De acordo com levantamento divulgado em 2024, 17,5 milhões dos 34,2 milhões de proprietários de motocicletas, motonetas e ciclomotores registrados no país não têm CNH, o que representa 53,8% do total.
A dificuldade de acesso à carteira de habilitação, cujo custo varia entre R$ 2.500 e R$ 3 mil, é apontada como uma das causas. Outra é o aumento de modelos de negócio baseados em veículos compartilhados, como o aluguel de motocicletas — prática que se tornou comum principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
A expansão da frota de motocicletas tem papel central nesse contexto. A pesquisa da Senatran mostra que as motos representam atualmente 28% de toda a frota de veículos no Brasil. A tendência é que esse número chegue a 30% até o fim da década, caso o ritmo atual de crescimento se mantenha.
O aumento é puxado especialmente pelas regiões mais pobres, onde a moto é vista como alternativa de mobilidade e fonte de renda rápida. Porém, a combinação de motoristas sem habilitação, alta exposição ao risco e despreparo generalizado tem transformado as ruas em armadilhas fatais.